16 de setembro de 2007

O início

Sou um pensador. Penso todo o tempo. Tanto, que me farto dos meus pensamentos. Eles me escravizam. Escrever, para mim, é uma maneira de me livrar deles, prendê-los em algum lugar. É um exercício de libertação.

19 de março de 2007

Insônia

Ah!, como é triste a hora de dormir. Ir para a cama é como morrer para mim. Um pouco mais confortável e menos assustador, mas ainda assim, triste. Fechar os olhos enquanto se tem milhares de coisas a fazer, a pensar. Ir ao médico, ao dentista, à casa de um amigo querido, a um parque, ao cinema, ao banco... E então chega a hora fatídica e uma luta é travada entre mim e a cama. Ela também parece não querer-me ali, implora para que eu fume outro cigarro, assista a mais um filme ou escreva mais um verso. Mas a caneta não quer muito assunto. Se ela tivesse uma cama não hesitaria em morrer um pouco. Mas só um pouco.

6 de março de 2007

Homem-Gelo

Silêncio!
Diz teus olhos
para os meus.
Minha boca paralisada
te pede, implora
por apenas um grito.
Mas teu olhar me sussurra
um hálito gélido
que não consegue alcançar
meus ouvidos distantes.
Distantes porque tu corres,
foges, ignoras
a mim e ao resto.
Então só me resta esperar
que uma brisa quente
descongele teus lábios
e teu coração petrificado
para que tu possas
explodir, chorar
ou simplesmente me perdoar.

1 de fevereiro de 2007

Pensamentos incertos

Quanta coisa ficou clara pra ele naquele momento! Algo deveria ser feito. E rápido, pois ele continuava com pouquíssimo tempo. E pensava sem parar em tentar achar uma saída. Pensar era seu passatempo preferido. Pensava o tempo todo e era no banheiro que tinha as melhores idéias, mas desta vez ele foi iluminado na cozinha, ao abrir a geladeira para pegar outra bebida. Alcoólica, é claro, pois este era outro passatempo que o agradava bastante. De gole em trago e tapas a caneta e os pensamentos corriam sobre a folha verde-claro. E pensava na certeza de que não era perfeito, mas que outros vários atributos o faziam um cara muito interessante e outros que o tornavam um grande maluco. Depois pensava que pensava demais e se perguntava o motivo daqueles pensamentos.
Cotovelos na mesa, mão na cabeça, punho fechado. E acabava por largar a caneta sobre a toalha rosa, mas continuava pensando.

2 de novembro de 2006

Extra ação

Estava resolvido:
declaração, contato, colchão.
Ou não.
Em cinco segundos
teria a solução.
E seria o paraíso,
mas o tal do dente siso
(dente ordinário)
passara do horário:
extração, piada!
E na interminável estrada
num quase eterno inverno
no ônibus, sem parada
eu escrevia
sobre o que não aconteceria.